sábado, 29 de maio de 2010

O Tempo

Caminho pela úmida manhã por entre a névoa fina que ofusca os meus olhos e o som do vazio. O vento, as folhas no chão e eu só, em meio a essa estrada deserta, sem um lar pra voltar ou um caminho pra seguir. Somente uma antiga canção ecoa em minha mente e me faz lembrar de outros tempos, das saudações de dias festivos, dos seus cabelos soltos na primavera e do nosso céu de sonhos que formavam um soneto de reveladora verdade.

Tento me esquivar das ruínas do tempo andando por ruas nunca antes visitadas, mas meus pés estão cansados. Continuo a caminhar e aprendo que a dor é uma companhia aguda que você aprende a carregar. Não paro de pensar nas ventanias das enseadas e das embarcações que partem com vigoroso renascer. Quando chegar, sei que sentirei o cheiro das especiarias que vêm com o vento de margens distantes e saberei que estarás dançando com um largo sorriso e suas botas de tiras, junto a outras moças ansiosas pelas primeiras experiências da mocidade.

Não vou desistir até envolvê-la em meus braços ainda jovem em alguma das tantas dimensões que disputam o físico e presente espaço perdido no tempo inexistente e invisível. Sei que estará lá, do jeito que te conheci, mas ainda não sei como chegar, estou acordado, meus olhos pesados perdidos no vazio, minhas lembranças acesas como a luz de algumas estrelas que já não existem mais e continuam a brilhar com infinita beleza.

Nenhum comentário: